2 AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, PLANEJAMENTO E PLANO DE NEGÓCIOS

2.1 As Micro e Pequenas Empresas

2.1.1 Definição e características de micro e pequenas empresas

Segundo o IBGE (2003) não há uma uniformidade de critérios para a definição de micro e pequenas empresas. São vários os critérios utilizados tanto por parte da legislação específica, como por parte de instituições financeiras oficiais e órgãos representativos do setor. Esses critérios se baseiam no faturamento, no número de pessoas ocupadas ou em ambos. Essa variabilidade decorre da distinção das finalidades e objetivos das instituições que promovem seu enquadramento. O Quadro 1 sintetiza os critérios adotados para enquadramento de micro e pequenas empresas no Brasil.

Quadro 1 – Definição de micro e pequenas empresas


Critérios de enquadramento
Valor de receita
Número de pessoas ocupadas
Lei nº. 9.841 de 05/10/1999
Microempresas
Empresas de pequeno porte


Até 244 mil reais
De 244 mil reais a 1,2 milhões de reais

Sebrae
Microempresas
Empresas de pequeno porte


Até 9
De 10 a 49
BNDES (critério dos países do MERCOSUL para fins creditícios)
Microempresas
Empresas de pequeno porte


Até 400 mil dólares (cerca de 940 mil reais)
 De 400 mil dólares a 3,5 milhões de dólares (cerca de 8,2 milhões de reais)

Fontes: Brasil. Lei nº. 9841, de 5 de outubro de 1999. Institui o estatuto da microempresa e da empresa de pequeno porte, dispondo sobre o tratamento jurídico diferenciado, simplificado e favorecido previsto nos artigos 170 e 179 da Constituição Federal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 6 out.1999. p.1. Col. 1; SEBRAE-Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Apud IBGE     ( 2003, p 17).
O IBGE (2003, p. 18), relaciona as seguintes características das micro e pequenas empresas:
Baixa intensidade de capital; altas taxas de natalidade e de mortalidade; demografia elevada; forte presença de proprietários, sócios e membros da família como mão-de-obra ocupada nos negócios; poder decisório centralizado; estreito vínculo entre os proprietários e as empresas, não se distinguindo, principalmente em termos contábeis e financeiros,  pessoa física e jurídica; registros contábeis pouco adequados; contratação direta de mão-de-obra; utilização de mão-de-obra não qualificada ou semiqualificada; baixo investimento em inovação tecnológica; maior dificuldade de acesso ao financiamento de capital de giro; e relação de complementaridade e subordinação com as empresas de grande porte.



2.1.2 Histórico e importância das micro e pequenas empresas

Com o aumento do desemprego na década de 1980 em função da redução do ritmo de crescimento da economia os pequenos negócios passaram a ser considerados uma alternativa para a ocupação da mão-de-obra excedente (IBGE 2003).
Segundo o IBGE (2003) esse fato resultou nas primeiras iniciativas para incentivar a criação de micro e pequenas empresas na economia brasileira. Foi criado em 1984 o primeiro Estatuto da Microempresa (Lei nº. 7.256 de 27 de novembro de 1984) e a inclusão, na Constituição Federal de 1988, das micro e pequenas empresas, que passou a garantir-lhes tratamento diferenciado (Artigo 179 do Capítulo da Ordem Econômica).
            Na década de 1990, com a abertura da economia, a concorrência deixou de ser local, na qual a preocupação estava voltada exclusivamente para os concorrentes próximos, e passou a ser global, exigindo maior competitividade dos empresários para a manutenção do empreendimento. Foi nesse momento que o governo criou o SEBRAE- Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, com o objetivo de dar suporte e orientar as micro e pequenas empresas na busca de soluções para seus problemas.  
            Esses fatos resultaram no aumento da atividade empreendedora no Brasil. O relatório executivo de 2000 do Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2000), citado por Dornelas (2005, p.28), mostra o Brasil como o país com a melhor relação entre o número de habitantes adultos que começam um novo negócio e o total dessa população: 1 em cada 8 adultos, superando países como Estados Unidos (1em cada 10), Austrália (1 em cada 12), Alemanha, (1 em cada 25), Reino Unido (1 em cada 33), Finlândia e Suécia (1 em cada 50), Irlanda e Japão (1 em cada 100). Esses números mostram a importância da atividade empreendedora para a economia do país, especialmente a criação de micro e pequenas empresas.
Para o IBGE (2003, p.15).
Uma importante contribuição das micro e pequenas empresas no crescimento e desenvolvimento do País é a de servirem de “colchão” amortecedor do desemprego. Constituem uma alternativa de ocupação para uma pequena parcela da população que tem condição de desenvolver seu próprio negócio, e em uma alternativa de emprego formal ou informal, para uma grande parcela da força de trabalho excedente, em geral, com pouca qualificação, que não encontra emprego nas empresas de maior porte.



Pode-se avaliar a importância das micro e pequenas empresas para a economia do país pelo número dessas empresas no total das empresas existente no Brasil. Segundo o SEBRAE (2006), em 2004, correspondiam a 98% do total de 5,1 milhões de empresas existentes no Brasil, responsáveis por 67% do pessoal ocupado no setor privado.
            No entanto, apesar do alto índice de criação de empresas no Brasil, também é grande o número de empresas que são fechadas todos os anos, principalmente micro e pequenas empresas. O IBGE, no Cadastro Central de Empresa 1998 – 2000 mostra que para as empresas comerciais e de serviços a taxa de natalidade, assim como a taxa de mortalidade, são maiores para as menores empresas.
             “O fechamento prematuro de empresas no país tem sido uma das preocupações da sociedade, particularmente para as entidades que desenvolvem programas de apoio ao segmento de empresas de pequeno porte” SEBRAE (2004, p.3). Com essa preocupação o SEBRAE, no ano de 2004, realizou uma pesquisa com o propósito de identificar a taxa de mortalidade das micro e pequenas empresas e os principais fatores condicionantes da mortalidade empresarial. A pesquisa identificou que a taxa de mortalidade, no Brasil, para empresas com até 3 (três) anos de constituição, foi de 56,4%, e, dentre as razões apontadas para o fechamento da empresa, as principais foram a falta de capital de giro, carga tributária elevada, concorrência muito forte, problemas financeiros e vendas baixas.
 A mesma pesquisa aponta, como fatores mais importantes para a sobrevivência e para o sucesso empresarial, o bom conhecimento do mercado, boa estratégia de vendas, criatividade na condução dos negócios, reinvestimento dos lucros na própria empresa, acesso a novas tecnologias e aproveitamento das oportunidades de negócios. Apontou, ainda, planejamento, organização empresarial, vendas, análise financeira e marketing/propaganda como as áreas de conhecimento mais importantes no primeiro ano de atividade de uma empresa.
Analisando esses resultados, percebe-se que as razões apontadas para o fechamento das empresas, apesar da importância de fatores incontroláveis do ambiente externo, sobre os quais o empreendedor nada ou pouco pode fazer, como a carga tributária elevada, assim como os fatores apontados como mais importantes para a sobrevivência e para o sucesso empresarial, direcionam-se para as principais áreas do conhecimento apontadas como mais importantes no primeiro ano de atividade da empresa: planejamento e gestão. Daí, conclui-se que o planejamento é a base para o sucesso empresarial, uma vez que uma boa gestão é decorrência de um bom planejamento.

Tabela 1 - Taxas de natalidade e de mortalidade das empresas
comerciais e de serviços - 1998-2000 

               Taxas
                (%)
Empresa
Comerciais
De Serviços

0 a 5 pessoas

6 a 19 pessoas

20 e mais pessoas

0 a 5 pessoas

6 a 19 pessoas

20 e mais pessoas

1998
  Taxa de natalidade
  Taxa de mortalidade
1999
  Taxa de natalidade
  Taxa de mortalidade
2000
  Taxa de natalidade
  Taxa de mortalidade







20,4
18,1

24,0
16,6

22,7
15,8

 8,4
 6,8

10,2
 6,5

11,3
 7,1

6,5
5,8

6,0
7,3

6,6
6,2

26,7
20,1

29,4
19,3

27,1
19,0

10,6
  8,4

12,3
  8,4

12,7
 9,7

7,3
10,7

8,5
7,2

8,0
6,8
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Estatísticas do Cadastro Central de Empresas 1998-2000. Apud IBGE (2003, p.19)

            Diante dos fatos, percebe-se a necessidade de os empresários das micro e pequenas empresas conhecerem e internalizarem conceitos e ferramentas para o planejamento do seu negócio.

2.2 Planejamento

2.2.1. Definição e objetivos

            “O planejamento constitui a primeira função da administração. Antes que qualquer função administrativa seja executada, a administração precisa determinar os objetivos e meios para alcançá-los” (Chiavenato, 1994, p. 213).
Apesar de o homem desde a antiguidade ter se organizado para a realização de grandes empreendimentos, o termo planejamento, nesta concepção, surgiu apenas na segunda fase da revolução industrial.
Com o aumento da complexidade das organizações, advinda da produção em massa, surgiu a necessidade de separar o planejamento da execução. O conceito de planejamento, no entanto, tem evoluído com a evolução das empresas e a necessidade de as mesmas adaptarem-se e anteciparem-se às mudanças do ambiente.
O planejamento, que inicialmente foi denominado de orçamento, era um planejamento de curto prazo e preocupava-se apenas com a eficiência das operações dentro da organização. Posteriormente, evoluiu para o planejamento de longo prazo, ou seja, a extrapolação do orçamento para um período de tempo maior, sem, no entanto, levar em consideração as mudanças ambientais.
A concepção atual do planejamento analisa as oportunidades e as ameaças do ambiente, os pontos fortes e os pontos fracos da empresa.
Uma ferramenta bastante utilizada para a análise das oportunidades e ameaça, dos pontos fortes e dos pontos fracos é a matriz SWOT.
Segundo Chiavenato (2003), a matriz SWOT faz o cruzamento das oportunidades e as ameaças externas à empresa com seus pontos fortes e fracos, formando uma matriz com quatro quadrantes e, para cada um dos quadrantes haverá uma indicação de que rumo a empresa deverá tomar.
O quadrante 1 aponta as forças e capacidade da empresa para aproveitar as oportunidades. O quadrante 4 revela as fraquezas da empresa para lidar com as ameaças do ambiente. O quadrante 2 propõe que as forças da empresa crie barreiras para as ameaças. O quadrante 3 mostra que as fraquezas dificultam ou impedem  a empresa de aproveitar as oportunidades.
                           Quadro 2 – As quatro zonas da matriz SWOT

Análise externa
Análise Interna
Oportunidades
Ameaças
                                             


Pontos fortes

Política de ação ofensiva ou
Aproveitamento: área de domínio da empresa                                 
                                             1
Política de ação defensiva ou
Enfrentamento: área de risco enfrentável.
2

Pontos fracos
Política de manutenção ou                                          
Melhoria: área de aproveitamento potencial
                                             3
Política de saída ou
Desativação: área de risco acentuado
4
         Fonte: Chiavenato (2003,  p. 188)
                                                                                                                                                                                                                                                     
 Concluída a análise e, a partir da consciência da importância desses fatores para o cumprimento da missão da empresa, estabelece o propósito de direção que a empresa deverá seguir para aproveitar as oportunidades e minimizar os riscos.

 Quadro 3 – Exemplo de matriz swot

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA MATRIZ SWOT
FORÇAS
FRAQUEZAS
OPORTUNIDADES
AMEAÇAS
Competências básicas em área-chave, recursos financeiros adequados, liderança e imagem de mercado, acesso a economia de escala, condicionamento competitivo que gera barreiras à entrada de competidores, tecnologia patenteada, vantagem em custos,  campanha de propaganda vencedora, competência e inovação de produtos, vanguarda na curva da experiência,  capacidade de fabricação superior, etc.
Falta de foco no negócio, instalações obsoletas, ausência de competências básicas, problemas operacionais internos, etc.
Mudanças de hábitos do consumidor, surgimento de novos mercados, diversificação, queda de barreiras comerciais, etc.
Mudanças de hábitos do consumidor, entrada de novos concorrentes, aumento das vendas de produtos substitutos, mudança na regulamentação, etc.
   Fonte: Chiavenato (2003, p.189).
A definição de planejamento, portanto, considera o ambiente e a necessidade de permanência da empresa nesse ambiente.
Scarton (1981, p.41) define o planejamento como “o estabelecimento e a coordenação antecipada do comportamento futuro de uma organização atendendo a uma hierarquia de valores”. Afirma que o objetivo principal do planejamento é conduzir a empresa à realização do seu fim, disciplinando a ação e evitando que a dispersão de esforços e a falta de continuidade possam ocasionar o fracasso.
Chiavenato, (1994, p. 214),  define o planejamento como
[...] a função administrativa que determina antecipadamente o que se deve fazer e quais objetivos devem ser alcançados, e visa dar condições racionais para que se organize e dirija a empresa ou seus departamentos ou divisões a partir de certas hipóteses da realidade atual e futura... No fundo, o planejamento é uma técnica para observar a incerteza e  permitir mais consistência no desempenho da empresa.


Conforme Chiavenato (2003) o planejamento, através da utilização dos princípios de maior eficiência, eficácia e efetividade, que são os critérios de avaliação da gestão, deve  maximizar os resultados e minimizar as deficiências.

Quadro 4 – Princípio de eficiência, eficácia e efetividade
EFICIENCIA É
EFICÁCIA É
EFETIVIDADE É
. Fazer as coisas da maneira adequada.
. Resolver problemas
. Cuidar dos recursos aplicados
. Cumprir o dever
. Reduzir custos
. Fazer as coisas certas
 . Produzir alternativas criativas
. Maximizar a utilização dos recursos
. Obter resultados
. Aumentar o lucro
. Manter-se sustentável no ambiente
. Apresentar resultados globais ao longo do tempo
. Coordenar esforços e energias sistematicamente


.
Fonte: Chiavenato (2003, p. 39)

Uma ferramenta de grande importância para o planejamento e gestão diária das empresas é o plano de negócios, estudado por vários autores em todo o mundo e que está ao alcance de qualquer tipo e tamanho de empresa.

2.3. Plano de Negócio

2.3.1 Histórico, definição,  importância e benefícios

No Brasil, conforme Dornelas (2005), o termo plano de negócio começou a se popularizar para os empreendedores no início da década de 1990 com o programa Softex, criado para incentivar a exportação de software nacional.              
“A explosão da internet, no final do ano de 1999 e início de 2000, e o Programa Brasil Empreendedor, do Governo Federal, propiciaram a disseminação do termo plano de negócios em todo o país.” (DORNELAS, 2005, p.93).
            No entanto, para Dornelas (2005), o plano de negócios destacou-se entre os empreendedores apenas como documento indispensável na busca de recursos financeiros para o empreendimento. Todavia, o plano de negócios tem como principal utilidade a de prover uma ferramenta de gestão para o planejamento e desenvolvimento inicial de um negócio.
            Segundo Bernardi (2007), a complexidade do contexto empresarial atual exige que empresários, empreendedores e executivos tenham objetivos claros e estratégias bem definidas ao iniciarem ou desenvolverem um negócio. Além disso,  devem ter competências, estruturas e recursos compatíveis. Assim, é possível criar modelos de negócios competitivos, melhorando as chances de sucesso e sobrevivência do empreendimento.
O desenvolvimento do plano de negócios conduz e obriga o empreendedor ou empresário a concentrar-se na análise do ambiente de negócios, nos objetivos, nas estratégias, nas competências, na estrutura, na organização, nos investimentos e nos recursos necessários, bem como no estudo da viabilidade do modelo do negócio. Por essa análise, detectam-se as possíveis vulnerabilidades e ameaças do negócio e as contramedidas necessárias, bem como as oportunidades e as forças delineando uma trilha estratégica congruente ao negócio. (Bernardi, 2007 p.04).


           
             Bernardi (2007) afirma, também, que o desenvolvimento e elaboração de um plano de negócios propiciam uma reflexão sobre a natureza, os objetivos, a estratégia adequada, a estrutura, os recursos necessários e, ainda, a análise da viabilidade econômica e a melhor forma de financiamento do negócio.
Entretanto, em muitos casos, essa análise é feita apenas intuitivamente, ficando as informações guardadas apenas na cabeça da pessoa que pensa e, posteriormente, executa a ação.  A ação empreendedora, porém, não é e nem pode ser vista como uma ação simples, onde todas as informações possam ficar restritas na mente de uma única pessoa.
            “Desenvolver um novo empreendimento é o passo inicial e mais completo para oferecer um produto ou serviço. Essa parte do processo de criação de um novo empreendimento é talvez a mais difícil de realizar” (HISRICH, 2004, p.163).
            Hisrich (2004) afirma que o plano de negócios é o documento mais importante para o empreendedor no estágio inicial do empreendimento, uma vez que nenhum investidor aplicará recursos em um empreendimento que não tenha um plano de negócios. Além disso, o plano de negócios ajuda a sustentar no empreendedor perspectiva do que necessita ser realizado.
O processo de elaboração do plano de negócios possibilita prever uma parte dos riscos e situações operacionais adversas, além de permitir a elaboração de planos de contingência, diminuindo, dessa forma, a probabilidade de morte precoce  das empresas.
            Percebe-se, portanto, que o plano de negócios deve ser um documento escrito contendo todas as informações necessárias para a criação e desenvolvimento de um negócio. Além de ser uma ferramenta de planejamento é, também, uma ferramenta para a gestão diária do negócio e pode ser usado tanto no planejamento de novos negócios como no planejamento de empresas estabelecidas no mercado. Deve ser escrito em uma linguagem clara, concisa e objetiva, capaz de mostrar a viabilidade e probabilidade de sucesso do negócio para investidores e outros grupos de interesse. Deve ser flexível e acompanhar as mudanças do ambiente externo, devendo ser atualizado periodicamente.
            “O plano de negócios, sendo uma ferramenta de planejamento que trata essencialmente de pessoas, oportunidades, do contexto e mercado, riscos e retornos, também muda.” (Sahlman, 1997), citado por Dornelas (2005, p.97)
            Vários autores definem o que é o plano de negócios. A seguir, algumas definições:
            “Documento preparado pelo empreendedor em que são descritos todos os elementos externos e internos relevantes envolvidos no início de um novo empreendimento”. (Hisrich, 2004, p. 97).
            “Documento usado para descrever um empreendimento e o modelo de negócios que sustenta a empresa”. (Dornelas, 2005, p. 98).
A descrição, em um documento, da oportunidade de negócio que o candidato a empreendedor pretende desenvolver, como a descrição do conceito do negócio, dos atributos de valor da oferta, dos riscos, da forma como administrar esses riscos, do potencial de lucro e crescimento do negócio, da estratégia competitiva, bem como o plano de marketing e vendas, o plano de operação e o plano financeiro do novo negócio, com a projeção do fluxo de caixa e o cálculo da remuneração esperada, além da avaliação dos riscos e o plano para superá-los. (Degen, 2009, p. 208).


            Analisando as definições percebe-se que o plano de negócios é um documento capaz de oferecer informações que possibilitam ao empreendedor estabelecer prioridades e centrar esforços nos pontos chaves para o sucesso do negócio, uma vez que oferece uma visão detalhada sobre as variáveis do ambiente empresarial como o mercado consumidor, a concorrência, a necessidade de recursos, o processo de produção, as ameaças e as oportunidades, as forças e as fraquezas.
            Portanto, escrever um plano de negócios é de grande importância, uma vez que oferece ao empreendedor vários benefícios que não os teriam sem o plano de negócio.
            Conforme Dornelas (2005) uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, por ex-alunos da Harvard Business School, concluiu que o plano de negócios aumenta em 60% a probabilidade de sucesso de negócios.
            Dornelas (2005, p.99), cita seis benefícios do plano de negócios para o empreendedor:
1.    Entender e estabelecer diretrizes para o negócio;
2.    Gerenciar de forma mais eficaz a empresa e tomar decisões acertadas;
3.    Monitorar o dia-a-dia da empresa e tomar ações corretivas quando necessário;
4.    Conseguir recursos junto a bancos, governos, SEBRAE, investidores, capitalistas de risco, etc.;
5.    Identificar oportunidades e transformá-las em diferencial competitivo para a empresa;
6.    Estabelecer uma comunicação interna eficaz na empresa e convencer o público externo (fornecedores, parceiros, clientes, bancos, investidores, associações, etc.).

           




Degen (2009, p. 208 a 210), cita dez benefícios que a criação de um plano de negócios proporciona ao candidato a empreendedor:
1.    Reunir ordenadamente todas as informações e idéias sobre o negócio;
2.    Forçar a análise, a formalização e a justificativa de todos os aspectos críticos do negócio;
3.    Vender o negócio para si mesmo;
4.    Simular as conseqüências de diferentes estratégias competitivas, oferta de valor, de planos financeiros, etc.;
5.    Apresentar o plano a pessoas experientes e de confiança para validá-lo, ouvir sugestões, críticas, etc.;
6.    Motivar e focalizar a atenção do candidato a empreendedor e dos possíveis sócios e colaboradores nos riscos do negócio e como superá-los, além de focar nos aspectos críticos para o sucesso do negócio;
7.    Testar a oportunidade de negócio, o conhecimento, a motivação e a dedicação do candidato a empreendedor e dos possíveis sócios e colaboradores do novo negócio;
8.    Convencer possíveis sócios, investidores, financiadores, fornecedores, e futuros clientes do sucesso do novo negócio e, assim, obter os recursos necessários para realizá-lo;
9.    Orientar a montagem e a operação do novo negócio;
10.  Controlar o investimento da montagem e os custos da operação por meio da projeção do fluxo de caixa do novo negócio.


2.3.2 Tamanho, estrutura e conteúdo do plano de negócios.

            Vários autores tratam a respeito do tamanho, da estrutura e do conteúdo de um plano de negócios. Percebe-se que não há um tamanho definido, uma estrutura específica, nem uma metodologia certa para se escrever um plano de negócios. Afinal, cada empresa tem as suas particularidades e semelhanças. Por exemplo, uma empresa de serviços tem objetivos e metas diferentes de uma empresa que fabrica produtos ou bens de consumo. Também, no mesmo ramo de atividade, há as diferenças entre as empresas, como diferenças nos objetivos e metas, atuação em diferentes nichos de marcado, diferenças nos processos de produção, na forma de comunicação com o mercado, etc. Assim, o plano de negócios para uma micro ou pequena empresa deve ser diferente de um plano de negócios para uma média ou grande empresa. O plano de negócios para uma micro ou pequena empresa deve ser breve e concentrar naquilo que tem que ser feito para que os objetivos sejam atingidos. “Um planejamento eficaz para uma pequena empresa visa ações e resultados. Envolve converter objetivos que desafiam, em atividades produtivas. A finalidade é melhor desempenho e maior lucro”. (Resnik, 1990, p. 259)
            O plano de negócios, no entanto, deve possuir seções, dispostas numa seqüência lógica, capaz de proporcionar a qualquer leitor um entendimento completo do negócio. Entender a empresa, sua organização, suas estratégias, seus produtos e serviços, seu mercado e sua situação financeira.
            No presente trabalho optou-se, para a análise da estrutura de um plano de negócios, por um modelo de estrutura citado e sugerido por Dornelas (2005) para pequenas empresas em geral. O modelo sugerido é composto das seguintes seções: capa, sumário, sumário executivo, produtos e serviços, análise industrial, plano de marketing, plano operacional, estrutura da empresa, plano financeiro e anexos. A seguir cada uma destas seções será detalhada.

2.3.2.1. Capa

            É a primeira seção e serve como página de título do plano de negócios. Esta seção deve conter o nome, o endereço e os telefones da empresa; o endereço eletrônico e e-mail; o logotipo; a relação dos nomes, com cargo, endereço e telefones dos proprietários, diretor presidente e das principais pessoas-chaves da empresa; o mês e o ano de elaboração do plano; o número de cópias produzidas e o nome do responsável pela elaboração do plano de negócios.

2.3.2.2. Sumário

             Contém o título e assunto de todas as seções e subseções com a respectiva página do plano de negócios. Normalmente qualquer tipo de trabalho utiliza esse recurso para indicar os assuntos contidos no trabalho e as páginas de acesso. Tem o objetivo de facilitar a busca por assunto. É importante que seja organizado de forma a permitir encontrar cada assunto de maneira rápida e eficaz.

2.3.2.3. Sumário Executivo

            Representa uma síntese de todo o conteúdo que será apresentado no plano de Negócios, devendo, portanto, ser a última seção a ser escrita. Deve conter a declaração de visão, ou seja, a situação futura pretendida pela empresa; a declaração da missão; propósitos gerais e específicos do negócio, objetivos e metas; produtos e serviços, enfatizando quais necessidades serão atendidas e como os produtos e serviços atenderão a essas necessidades; sua oferta de valor e como essa oferta se diferencia em relação à oferta dos concorrente; os canais que serão utilizados para a distribuição dos produtos; as estratégias de comunicação; o processo de produção e o uso de tecnologias; a equipe gerencial, enfatizando sua formação, experiências e competências; investimentos e recursos financeiros necessários, mostrando como, quando e de que forma os recursos serão utilizados, e o tempo de retorno do investimento.
            É a principal seção do plano. Deve ser escrita de forma clara, concisa e objetiva, em não mais que duas páginas, dirigida ao público-alvo, com o objetivo de despertar o interesse do leitor em avançar na leitura.

2.3.2.4. Produtos e serviços

            Nesta seção serão relacionados os produtos e serviços, o processo e a capacidade de produção da empresa, os fatores tecnológicos envolvidos na produção, os recursos utilizados, o ciclo de vida dos produtos existentes e o plano de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Identificar a forma como os produtos e serviços serão fornecidos aos consumidores, ressaltando suas características e benefícios e como se diferenciam em relação aos produtos e serviços dos concorrentes. Mostrar como o mercado está crescendo e a participação relativa de mercado da empresa em relação aos principais concorrentes. Relacionar os fornecedores da empresa e justificar a escolha desses fornecedores. Informar se detém marca e/ou patente de algum produto.

2.3.2.5. Análise industrial.

            Esta é uma das principais seções do plano de negócios e deve ser a primeira seção a ser elaborada, pois todas as estratégias dependerão de como a empresa abordará seu mercado consumidor.
             Nesta seção deve conter um breve histórico do setor nos últimos anos e a análise das tendências para os próximos anos. Devem ser identificados os fatores que influenciam as projeções de mercados, mostrar por que o mercado se mostra promissor e identificar o tamanho do mercado em reais, número de clientes e concorrentes.
            Após uma pesquisa de mercado pode-se conhecer e definir o mercado a ser explorado, identificar como esse mercado está segmentado, as características desse mercado, seus clientes potenciais, seus concorrentes. Identificar as características do consumidor e onde está localizado, se há sazonalidade e o que fazer nesse caso, fazer uma análise da concorrência, a participação de mercado da empresa e a dos principais concorrentes e avaliar os riscos do negócio.

2.3.2.6. Plano de Marketing

            Nesta seção devem ser identificados os meios e os métodos que a empresa deverá utilizar para atingir seus objetivos de mercado. Serão definidas as estratégias de produto, preço, pontos de venda (distribuição) e promoção. Essas estratégias definirão a forma como a empresa pretende vender seus produtos, conquistar e manter o interesse dos clientes e aumenta a demanda. Deve abordar também sua política de preços, seus métodos de comercialização, diferenciais do produto para o cliente, principais clientes, seus canais de distribuição e ainda as estratégias de promoção/comunicação e publicidade com o objetivo de informar e persuadir os clientes sobre o produto e elaborar as projeções de vendas.

2.3.2.7. Plano Operacional

             No plano operacional será apresentado o planejamento do sistema produtivo da empresa e o impacto que cada ação terá em seus parâmetros de avaliação de produção. Aqui serão descritos as instalações necessárias e existentes, equipamentos e máquinas, funcionários, materiais e insumos. Serão descritos também as informações sobre o processo de produção, a tecnologia utilizada e seu diferencial, suas etapas e fatores que influem no processo como: planejamento e controle de produção, rotatividade de material, índices do processo produtivo, desenvolvimento operacional tecnológico, etc. Deverão ser descritos ainda os processos terceirizados na empresa.


2.3.2.8. Estrutura da Empresa

            Nesta seção será elaborado um breve resumo da empresa, sua história e seu status atual, enfatizando as características únicas do negócio e como pode prover um benefício ao cliente. Descrever o propósito de criação da empresa, a natureza dos produtos ou serviços, como ele se desenvolveu ou se desenvolverá, o modelo de negócio e seus diferenciais. Serão descritos os dados da empresa, como razão social, porte e como está enquadrada na legislação: micro ou pequena empresa, capital social, estrutura organizacional, localização, parcerias, certificações de qualidade, serviços terceirizados, etc. Outro aspecto importante é mostrar que a empresa possui pessoas qualificadas apresentando a formação, experiências e competências da equipe gerencial. Identificar também os problemas de segurança e apresentar as soluções e as áreas da empresa que serão terceirizadas.

2.3.2.9. Plano Financeiro

            Nesta seção serão apresentadas em números todas as ações planejadas para a empresa bem como a comprovação da viabilidade econômica do negócio através de projeções futuras das demonstrações financeiras. Deve conter os investimentos necessários, gastos com pessoal, vendas e marketing, custos fixos e variáveis, projeção de vendas, demonstrativo do fluxo de caixa com tempo mínimo de 3 anos, balanço patrimonial, demonstrativos de resultados e indicadores financeiros como: faturamento previsto, margem prevista, análise do ponto de equilíbrio, prazo de retorno sobre o investimento inicial (payback), taxa interna de retorno (TIR), valor presente líquido (VPL), etc.

2.3.2.10. Anexos

             Aqui serão anexadas todas as informações necessárias para o melhor entendimento e complementação do plano. Deve ser anexado o currículo de cada participante do empreendimento, pesquisa de mercado, planilhas financeiras, fotos, resultados e outros documentos importantes.